quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Eu não significo nada.

O tempo vai passando e vou percebendo cada vez com mais nitidez, os defeitos que fazem de mim uma pessoa solitária.
Eu demorei uma vida pra entender que meu gênio conturbado, meus traumas e minha velhice precoce, não são aceitas pela sociedade. Que se você não se adequa ao humor hipócrita do mundo, aos poucos você será rejeitado por ele.
Não importa o que eu acho sobre conviver com a perda e a mágoa, eu tenho que ser forte pra viver, e eu apenas tenho sobrevivido. Sobrevivido ao meu próprio caos, a minha própria confusão.
Confusão sufocante, que estrangula minhas entranhas forçando lágrimas e humilhações que escapam por entre meus dedos e correm o mundo expondo minhas fraquezas.
Em alguns dias eu desejo estar só, dentro de uma caixa escura, pra fugir das dores que o mundo me impõe. Que seja a menor das dores existentes, é a única que dói em mim. É dificil explicar quantas vezes tive vontade de arrancar minhas visceras e plantar num solo puro, pra renascer melhor. Mais infelizmente ainda não me deprimi tanto ao ponto de tentar essa façanha.
Eu sou falsa comigo mesma, vingativa com os outros, intempestiva, arrogante, antipática. E machuco somente a mim, nos outros eu causo asco, afasto o bom e o mal... Fico sozinha com minhas palavras que depois de juntas ainda assim parecem não significar nada! Eu não significo nada, eu não sou coisa alguma.

domingo, 21 de novembro de 2010

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Talvez as palavras traduzam o que o coração sente, ou já não sente. Quando as pessoas não compreendem mais o som que a garganta emite, a caneta desliza com facilidade pelo papel desenhando a alma como se fosse um espelho. Silenciando o peito acelerado pelo desespero, esvaziando nuvens encharcadas de lágrimas.
Momentaneamente a vida passa a ser história e não se sente mais necessidade do real, já que não há prazer em fazer parte dessa dimensão.
Quem dera se o mundo fosse simples e as vidas realmente se cruzassem. Não haveria solidão.
A loucura cria essas malvadas horas que atordoam pensamentos vazios, quando nem o sono faz calar o medo de perder o que já está perdido.
Seu único companheiro é um comprimido e um copo de destilado barato.
O que te resta é a caneta e o papel.
É o que te mantém vivo!

Eu faço assim, silencio e me esvazio.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

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Corpos espalhados pelas ruas das cidades. Corpos vivos, mortos e mortos-vivos, vagam ouvindo em bom tom, o silêncio da nossa omissão. Ameaçados por toda uma sociedade que os trata como a merda que gera e se livra com o apertar da descarga.
Crianças crescem educadas entre pedras de crack, impregnadas com o cheiro da prostituição que fede a urina e porra.
Enquanto os engravatados pedem seus votos fazendo juras de amor ao povo, essa epidemia fatal que domina cada vez mais as metrópoles e invade também as pequenas cidades, continua fazendo de pessoas, restos de nada, corpos vazios, lixo humano a espera da morte.
Os pobres apanham por roubar comida pra sobreviver, os governantes corruptos são absolvidos mesmo depois de roubar as chances de melhoria de vida da população pra se fartarem de luxos como cestos de lixo que valem mais do que o salário mínimo.
Somos obrigados a conviver com a pior corja, somos obrigados a escolher entre eles o que vai nos representar, e ainda assim com tanta injustiça explicita, insistimos em nos cegar, e nos contentamos em reclamar de braços cruzados. Passando por cima dos corpos caídos, ignorando vidas que consideramos perdidas. Lavando o asfalto esburacado com o sangue da força que segura e sustenta o país.
E depois de fechar os olhos pro feio, pro nojento, pro terror, sobrevivemos com o nosso pouco a espera de um país melhor, que se depender de nós, parados e silenciados pelas migalhas que recebemos, nunca existirá... E vamos conviver com o caos assim como os ratos convivem com o lixo.

em prol da nação...


despedaçando almas,
fuzilando pensamentos opostos,
criando guerras baseadas em diferenças étnicas.
invadindo cidades, destruindo familias, criando o medo e espalhando a desesperança.


em busca do poder de uma nação...
(a nação dos horrores!)
os soldados ocupam o chamado território,
e quando chega o fim da guerra...
ao retirarem suas fardas vitóriosas,
deixam rastros de destruição,
restos de vida,
cacos de histórias.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

meu ódio,

tão intenso, quase explodindo por um desejo, enlouquecido por alivio.
ranger de dentes,
olhares cerrados,
corações vazios e impulsos incontroláveis.
percorre artérias e veias, acelerando o coração, tentando conter o grito que liberta a ira.

para Dona May.

Hoje eu queria o mar,
ser o mar,
estar no mar.
Lavar o corpo com a água salgada.
Purificar.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Desespero.
Às vezes bate.
Vem com o vento, vazio e frio que precede a tempestade.
Insegura.
Às vezes sinto.
Como se não houvesse mais ossos pra sustentar a carne.
O nada.
Às vezes desejo.
O êxtase de se misturar ao pó, de onde viemos.
Loucura.
Às vezes invade.
Tirando o sentido de tudo.